segunda-feira, 29 de junho de 2009

as palavras sofrem: FIM DE SEMANA

Já estamos acostumados com a expressão "fim de semana". Sábado e domingo já dão um tom diferente para os dias que os precedem e sucedem. Uma sexta-feira de preparativos - chega de canseira, e uma segunda-feira brava. Às vezes temos um fim de semana prolongado por um feriado nesses dias. É só alegria. Mas... se formos ver bem, sábado e domingo não são um fim de semana. Sábado é o último dia da semana e domingo o primeiro. Seria, então, uma transposição de semana, ou outro nome melhor. Vendo assim, o domingo faz de todos os fins de semana um fim de semana prolongado. Mas, vamos lá, o que importa isso?

sábado, 27 de junho de 2009

crônica: MASANOVU SATO (Antonio)

Rubens Antônio da Silva
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Quem não conheceu Sato (ou Antonio) poderá pensar que o que vou escrever é coisa comum quanto aos que nos deixam. Os homens nos parecem melhores quando já não os temos. Aquela questão de que só damos valor àquilo que perdemos. Mas quem teve o prazer de compartilhar alguns de seus dias com Sato sabe de que se tratava de alguém especial. Homem boníssimo, leal, caridoso, honesto, trabalhador e... até parece trocadilho: sensato. Marido de uma dedicação muito especial. Sato e Zilda, uma prima valorosa, exemplificavam bem como uma vida a dois deve ser. A harmonia inabalável. A plena compreensão mútua. Será inesquecível a lembrança daquele casal com seu Voyage branco fazendo semanalmente seu roteiro de visitas, levando alegria e descontração aos amigos e parentes, principalmente os enfermos e idosos. Hospitaleiro até o último momento. Calmo, falante e risonho. Nunca o vi gritar, se lamentar, praguejar. Amigo das plantas, que sempre vicejavam por suas mãos. Que será delas, agora? Certo, um mestre nunca parte sem deixar um discípulo depositário de sua sabedoria. Zilda recebeu um grande tesouro. Nós também. Mas a saudade, quem a removerá do nosso caminho?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

parábola: MARIA E MARIAH

Rubens Antônio da Silva
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Existem pessoas, empresas e governos que trabalham com esforços iguais e obtem resultados diferentes. Façamos uma comparação.
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Haviam duas mulheres quase iguais, que chamaremos de Maria e Mariah. O mesmo trabalho doméstico, o mesmo tamanho da família, os mesmos eletrodomésticos. Todos os dias, elas serviam cinco refeições: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e lanche da noite. E lavavam as louças e utensílios.

Uma tinha o costume de lavar a louça antes de preparar a próxima refeição. A outra, servia a refeição e logo em seguida lavava a louça. O mesmo trabalho.


A diferença é que uma conservava a pia limpa e a outra, cheia de utensílios sujos da comida.

Vale a pena analisar nossas atitudes e encontrar onde estão os ralos que minam nossos objetivos.

trova-piada | Falavas que estava cheio

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Rubens Oficial
Falavas que estava cheio
o grande salão, mas vi-o.
Engano, do teto ao meio
estava todo vazio.
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Outras mídias: A Trova Risonha (organização de Eno Teodoro Wanke). Prêmio: Clube Carioca de Trovas, 1984.. 

cachorro

Cachorro que late não morde (enquanto late).

quinta-feira, 18 de junho de 2009

as palavras sofrem: PEDÓFILO

A palavra pedófilo, segundo o Aurèlio, vem do grego paidóphilos, é adjetivo e substantivo masculino, e sgnifica "que, ou aquele que gosta de crianças". É o antônimo de pedófobo, "que, ou aquele que tem aversão por crianças". Conheço e admiro muitos pedófilos, no bom sentido. Pessoas que se encantam com os pequenos. Mas não vá saindo por aí dizendo que é pedófilo. Você pode até ser preso. Se isso acontecer, chame o dicionário. É que hoje a palavra está associada a maníacos por crianças. Esses devem ser coibidos.

evaporação

A evaporação é um ritual de purificação das águas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

crônica: JORNALISTA SEM DIPLOMA

Rubens Antônio da Silva
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Houve um tempo em que sonhava em ser jornalista, mas... não tinha condições de cursar jornalismo. Até hoje não temos esse curso na cidade. Fui trabalhar na revista Aldeia Global no setor comercial e aproveitei para apresentar alguns textos ao Ivan, o editor. Assim pude ver meus primeiros trabalhos publicados. Foi assim que fui para no jornal O Progresso de Tatuí, apresentado pelo jornalista Walter Silveira da Mota. Depois de pouco tempo, fui registrado como funcionário da empresa. Fazia as reportagens e escrevia as matérias. Na funcional, porém, o que constava era: colaborador. Na carteira profissional, pior: datilógrado... Tudo porque não tinha diploma de jornalista. Certa vez, o escritor Macedo Dantas escreveu um artigo sobre um poema meu e me tratava de jornalista: o jornal cortou. Guardo até hoje o original com a palavra encantada - jornalista! Foi assim que entrei na luta (timidamente, confesso) contra a exigência do diploma. Cheguei a publicar longa carta no Diário Popular (hoje Diário de S. Paulo) contestando um artigo publicado em defesa do canudo. As notícias projetavam a possibilidade de a exigência vir a cair. Deixei o jornal e fui trabalhar em serviços com que nunca sonhei. E não posso reclamar de tudo o que Deus me deu. Mas eis que agora leio a notícia de que o Supremo Tribunal Federal decidiu que a exigência do diploma fere princípios constitucionais. E com voto tatuiano. Celso de Melo mais uma vez nos deu orgulho. Foi um prazer vê-lo na TV afirmando categoricamente que a imprensa deve ser "essencialmente livre". Por tudo isso, me sinto também vitorioso. Já não tenho mais pretenções nesse ramo. Mas foi uma satisfação.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

crônica: JOÃO EDUARDO RIELO

Rubens Antônio da Silva
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Muita gente não sabia que ele estava doente e foi um susto muito grande. João Rielo não se lamenta, só quer trabalhar. Quando soube da gravidade da sua enfermidade, desconversou. Não é isso, não. O médico está enganado. Procurou acalmar a família, não quer o sentimento de pena. Quer trabalhar. Mesmo quando a doença tira a luz de seus olhos e a firmeza de suas pernas, não reclama. Pergunta pela identidade das pessoas que o rodeiam. Eu mesmo, estando ao seu lado, quando informado por sua mulher de que estava ali, pude sentir a sua mão ainda firme bater em meus joelhos em sinal de saudação e alegria. O seu caso se complica, mas enquanto tem voz, bendiz e louva. Tanta gente se juntou ao corpo inerte no velório de Boituva. Não houve quem não se recordasse do quanto ele gostava das pessoas e era gentil com elas. Educado, pacífico, conciliador. Tolerante, paciencioso. Trabalhador, forte, disposto. Cada um procura seu adjetivo para qualificá-lo. Nunca rancoroso, nunca raivoso, nunca violento. João Rielo mereceu a profusão das lágrimas que correram nas faces desoladas. Pois é, João, a morte é mesmo assim. Tudo o que que você não queria era fazer chorar.

sábado, 13 de junho de 2009

crônica: JOAQUIM

Rubens Antônio da Silva
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Faz bem pouco tempo que estou no orkut. Mês e meio, mais ou menos. Fiz e recebi convites de adição de amigos. Logo encontrei lá a figura do Joaquim. Ou Dr. José Joaquim Dias da Silva. Não poderia deixar de abrigá-lo na minha conta de amigos, trazendo para perto aquele advogado que me enxergava e me saudava de longe. Pedi add. Uma vez, estando em diligência no Conjunto Del Fiol do CDHU, no Bairro Tanquinho, eis que de repente ouço ao longe meu nome. Era ele que vinha em minha direção apenas para me cumprimentar. Um moço alegre e comunicativo, que me parecia sem inimigos. Seu pai foi secretário da Escola Tomás Borges quando eu era aluno, e sua mãe professora, quando eu lecionava. E eu aguardava sua aprovação na página do orkut quando recebi a cruel notícia. Fui ao velório e lá estava ele, de óculos, sem vida, ao lado dos pais. Que Deus lhes dê o conforto. Meu pedido de adição de amigo está feito. Amigo que morre amigo é amigo para sempre. Está registrada minha saudade.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

ABOBRINHA

A mãe desliga o rádio. A filha reclama.
- Agora só tem abobrinha, filha!
A criança pensa por um instante.
- Deixa, mãe, quero ver como que é abobrinha.
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Rubens Antônio da Silva

terça-feira, 9 de junho de 2009

crônica: POSTO DE COMBUSTÍVEIS

Rubens Antônio da Silva
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Não sei o nome daquelas pessoas. Também o que aconteceu até minha chegada só sei pelo que me disseram. Parece que um mendigo escolheu um espaço na calçada, atrás de uma bomba de combustíveis, para instalar a sua cama. Deve ter considerado a segurança do local e a cobertura metálica. Mas o posto estava em pleno funcionamento e certamente enfrentou a oposição dos que ali trabalhavam. Mas ele estava lá, enrolado em seu cobertor. Era onze e meia de uma noite. Tudo o que eu queria era voltar para casa e ganhar uma cama quentinha. Mas há pessoas bondosas e idealistas que, nessas condições, em vez de pensar na cama quentinha, pensam naqueles que não a tem. E foi o que aconteceu. Uma senhora já velha, magra e fraca, saiu de seu conforto para procurar pelos desafortunados que habitam as ruas. E encontrou aquele homem ali. Parecia bem acomodado e agasalhado. Ela ofereceu-lhe alguma coisa para comer. Comer?
- Não, minha senhora, aqui não!
- Esse homem deve estar com fome.
- Não, aqui não. Aqui não é lugar para piquenique. É uma estabelecimento comercial.
- Eu limpo a sujeira...
- Não, sra, não.
A mulher estende sua mão frágil em direção ao homem dormente, inclinando o corpo.
- Não, dona.
O frentista detem sua mão e a afasta daquele ser que parece tudo ignorar.
Aqui eu entro na história. Não sabia de nada. Parei no semáforo fechado e vi aquela mulher suplicante chegar à janela do carro. Pensei em algum acidente ou mal súbito.
- Moço, moço, liga para a Polícia. Esse homem me bateu, liga para a Polícia.
De impulso, peguei o celular e digitei 190. Um homem procurava dissuadi-la.
- Ninguém bateu na senhora, dona. Por favor...
Toca, toca e ninguém atende. Um desconhecido montado numa moto, talvez cliente do posto, se aproxima.
- A senhota tem que entender. Eles tem o direito de não querer mendigo no posto...
Finalmente atenderam.
- Corpo de Bombeiros, boa noite.
- Não é da Polícia? Digitei 190...
- É... quando eles não atendem, cai aqui. Por favor, ligue novamente.
E a mulher se lamentava.
- Ele me bateu só porque eu queria ajudar aquele homem.
- Ninguém bateu na senhora, dona!
Abriu e semáforo e saí com o carro. Toca, toca e, finalmente...
- Corpo de Bombeiros, boa noite.
- Mas caiu aí de novo?
- Espere um pouco...
Demorava e precisei desligar para dirigir.
Minutos depois, passei novamente pelo local. Parecia tudo calmo. A mulher, agora calma, conversava com alguns homens. O Posto funcionaca normalmente. O morador de rua dormia como se nada tivesse percebido.
Rubens Antônio da Silva

domingo, 7 de junho de 2009

JAQUELINE

Rubens Oficial

Mamãe, estou com fome
e a fome me consome.
Mamãe, quero mamar
na mamadeira nova de bico novo.

Mamazinho, mamãezinha.
Só leitinho, que açúcar -
papai falou - faz mal.

- Mamãe, por que tem açúcar,
então?
(Tatuí, 1988)

RIO E SOL

Rubens Oficial

(para Bruno)

O sol se banha no rio
e não se molha.
Mergulha no leito frio,
para quem olha.

O rio desce a pedreira,
mas não leva o sol,
que ali fica a tarde inteira,
aquecendo o caracol.

Quer pescar um arco-íris
e levá-lo até o céu.
Oh, sol! Leva, ao partires,
minha dor nesse teu véu.

(Tatuí, 1999)

O DESCOBRIMENTO DO MUNDO


Rubens Oficial

O mundo, por certo,
um dia foi descoberto.


Mas nem sempre foi igual.
- O descobrimento
é individual.


O mundo transfigura
aos olhos da gente.
Para mim e para você
existe um mundo diferente.


Mesmo assim, desde Adão,
pisamos o mesmo chão.


Mas, então, como é que é?
O mundo está na visão
ou o mundo está no pé?


Na verdade, Quem fez o mundo
fez o homem e a mulher
com poder de transformá-lo
no mundo que quiser.

(Tatuí, 20.01.1995)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

praça

Embora a Prefeitura tenha instalado muitas lixeiras na praça, as árvores insistem em jogar folhas ao chão.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

UM POEMA PARA ALUMÍNIO

Rubens Oficial


(Este poema foi um pedido da professora Renata, da Escola Manoel Netto Filho, à minha netinha Gabrielly Berger, quando ela morava em Alumínio e era aniversário da cidade. As crianças deveriam pedir a ajuda de um adulto. Gaby tinha 5 anos e ainda não era alfabetizada. Então fui fazendo perguntas a ela sobre o que achava de Alumínio e fui escrevendo. Confiram o resultado da experiência.)





minha cidade é bonita!
gosto das ruas, das calçadas
gosto da minha casa

gosto da minha escola
da biblioteca
(mesmo sem saber ler)
e da brinquedoteca
(porque ali sei o que fazer...)

se eu fosse fotógrafa
fotografaria as árvores do horto
- enormes -


os bancos com cara de sapo e coruja



da casa da vó Lídia
vejo o morro verde que tem uma árvore branca
nem penso em ir até lá
mas faz bem olhar


gosto de Alumínio
porque é o meu lugar
sou feliz aqui
sou feliz assim
e lá-ra-ra-ra-rá.

30.03.2009