sexta-feira, 7 de julho de 1978

distância

Tu vives em mim
como um guardião,
no meu pensamento,
no meu coração.

Estando feliz,
te vejo ao meu lado.
Ao não te encontrar,
me ponho calado.

Por todo lugar
teus passos busquei,
porém foi tão triste
quando eu te encontrei.

Ao ver-te sorrindo,
não pude sonhar,
pois só vi distância
em teu lindo olhar.


Tatuí, 1978

SEM INSPIRAÇÃO


Rubens Oficial

Quero escrever de meus sonhos,
mas falta-me a inspiração.
Eles estão aqui dentro do peito,
mas, por mais que volva as ideias
e os pensamentos derrame,
não escrevo uma palavra sequer
que diga o que sinto.

Quero escrever de meus sonhos,
mas não consigo revivê-los.
Uma palavra, talvez,
me abriria o horizonte.
Mas ela não sai.

Num último esforço,
escrevo somente
este poema sem inspiração.

Tatuí, 1978

ANOTAÇÃO

Rubens Oficial

Buscar a poesia
na falha do esboço,
no céu refletido
no fundo do poço,
em cima do teto,
debaixo do pé,
no caminho estreito
ou na marcha-a-ré.

Nem tente buscar
no luzir em vão
das joias das moças,
em exposição.
A poesia está
atrás da retina
dos olhos cansados
da moça granfina.

Tentar o possível,
tentar retirar
algum sentimento,
sem desanimar.
Poesia profunda,
o poema perfeito,
vai sempre viver
no fundo do peito.

Tatuí, 1978

menina do meu bairro



Menina pobre do meu bairro triste,
quanta ternura existe em teu olhar!
Não chores mais a pena de viver,
pois em teu ser eu quero me abrigar.

Não chores o zombar da sociedade,
pois a maldade existe em cada ser.
Olha, olha para o alto firmamento.
Contempla as estrelas do anoitecer.

Elas são tão humildes como tu.
Não desfaças, não desfaças a trança.
Não altere o rosado de teu rosto.
Não percas, não percas a esperança.

Menina triste do meu bairro pobre,
que chora o zombar da vil sociedade.
Não, não deixes este teu caminho
pra que não venhas a sentir saudade.

Antes chama, chama por teu amado.
Mas bem baixinho,bem baixinho, assim.
Se me achares num cantinho calado,
chama baixinho, mas chama por mim.

Tatuí, 1978

...CRIANÇA


A luz é o meu sorriso aceso.
O berço, meu pequeno império.
Não me interessa a inflação:
sou criança com vontade de brincar.

O mar é o meu melhor amigo.
O céu, o meu paraíso.
Não me interessa a poluição:
sou criança com vontade de sonhar.

Meu pai é o meu braço forte.
Minha mãe, o meu anjo lindo.
Não me interessa o divórcio:
sou criança com vontade de sorrir.

O mundo é o meu campo aberto.
A vida, o meu tempo infinito.
Não me interessa o jogo duro:
sou criança com vontade de viver.


Tatuí, 1978

CARNAVAL

É carnaval! Tempo da carne,
tempo do sangue, tempo do mal.
Carnaval das mulheres loucas.
Carnaval dos homens passados.
Carnaval do filho pródigo.
Carnaval dos corpos usados.
É tempo da alma calada
e do coração sepultado.
É tempo de homens e mulheres
perdidos, os corpos usados...
É carnaval! Tempo da carne,
tempo do sangue, tempo do mal.
Mas, quando chegar o dia
do último juizado,
virá o arrependimento.
Os tempos serão passados.
Feliz será aquele
que neste tempo malvado
viver firme na realidade
e da folia apartado.


Tatuí, 1978

COMPLEXO

Rubens Oficial


Bem sei que não pode
me compreender
por que sou tão triste
e não sei sorrir.

Bem sei que não pode,
não pode me ver
no canto sombrio,
atrás de você.

Seu riso é tão alto,
tão triste o meu ser.
Não há comunhão
entre eu e você.

Só peço uma coisa
ao seu coração:
embora pequeno,
me faça um irmão.


Tatuí, 1978

conselho de mãe

Caminha, meu filho,
sem medo da vida
que tua querida
mamãe te olhará.
Se algum empecilho
travar os teus passos,
dos males do laço
socorro terás.

Caminha, meu filho,
com fé na vitória,
que um grito de glória
te vem coroar.
Não deixes que o brilho
reinando contigo,
despreze o amigo
que quer te abraçar.

Procura amizade,
meu filho amado,
não deixes de lado
a quem te quer bem.
Se alguém, pela idade,
já não mais promete,
meu filho, merece
carinho também.

Caminha, meu filho,
de cabeça erguida,
que tua querida
te quer grande e forte.
Se algum desafeto
te vier a enfrentar,
viver é lutar
sem medo da morte.

Sê sempre prudente
nos teus afazeres,
cumprir os deveres
com dedicação.
Pra que dessa gente,
ao te ver passar,
ouvir murmurar:
- é bom coração.

Estejas atento
na festa e na dor.
Demonstra o valor
do bem - retidão.
Virá como vento
alguém te querer,
só deves temer
a vil escravidão.

Se abandonares
as minhas palavras
(que dor que me lavras!)
será tudo em vão.
Ao não alcançares
 o teu sonho, ideal,
será teu o mal.
- Espera-te o chão.

Tatuí, 1978