sábado, 1 de abril de 2017

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Professores de 7 escolas entram em greve. Educadores e alunos ocuparam Matriz, realizaram passeata e viajaram para São Paulo

Cristiano Mota

01/04/17 - Da reportagem de O PROGRESSO DE TATUÍ

Cristiano Mota 

Acompanhados por estudantes e membros de sindicatos locais, docentes realizaram passeata no município

Professores de sete escolas estaduais de Tatuí entraram em greve no fim de março. Os profissionais deflagraram paralisação que durou quatro dias, resultou em ocupação da Praça da Matriz, passeata pelas principais ruas do município e terminou com participação de um grupo de docentes em protesto na capital.

O movimento teve início na terça-feira, 28, e terminou na sexta, 31. Ele teve como propósito chamar a atenção da população para medidas iniciadas pelo governo federal: a reforma da Previdência – ainda em discussão – e o projeto de lei da terceirização. Este último, aguarda sanção do presidente da República, Michel Temer.

A paralisação local, no entanto, pode ser prorrogada, conforme explicaram as professoras Ana Maria das Dores, que leciona história, e Raquel Aparecida Vivi Convento (português e inglês). Apoiadas pelo movimento estudantil e pelo Sindserv (Sindicato dos Servidores Públicos de Tatuí e Região), elas encabeçaram protesto que levou para São Paulo 70 professores.

“Trata-se de uma iniciativa dos professores da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), que começou em Tatuí”, disse Raquel.

De acordo com a educadora, docentes de várias cidades da região são atendidas pela unidade de Tatuí. A partir do engajamento dos profissionais do município, os demais vinculados à associação decidiram engrossar o movimento. Tanto que Itapetininga aderiu à paralisação somente no último dia do ato.

Em Tatuí, os professores cruzaram os braços entre a terça e a sexta-feira, seguindo determinação da Apeoesp. As datas haviam sido definidas no dia 15 deste mês quando um grupo de professores da cidade foi até São Paulo para participar de assembleia. Eles também integraram protestos na Avenida Paulista.

“Nós estamos vinculando a paralisação com o calendário da reforma da Previdência”, contou Raquel. Segundo a professora, no dia 15, os educadores de todo o Estado convencionaram que fariam o movimento nos quatro dias. O motivo é que a votação da reforma estaria prevista para acontecer no período.

Seis dias depois, no dia 21, o presidente da República anunciou a retirada dos servidores estaduais e municipais da reforma. “Cancelaram, só que está comprovado que a retirada é inconstitucional, porque simplesmente não dá para fazer isso”, disse.

A avaliação dos professores é que o governo federal apenas “lançou a ideia” na esperança que os profissionais em todo o país recuassem e desistissem de se mobilizar. Para Ana Maria, a estratégia da presidência da República falhou. “Prova disso é a presença de mais de cem mil professores na Paulista em São Paulo no dia 15. Não parava de chegar gente”, disse.

Na cidade, a greve foi deflagrada nas escolas “Deócles Vieira de Camargo” e “Chico Pereira” – ambas no centro – e “Semíramis Turelli Azevedo”, no Jardim Tóquio; e “Lienette Avalone Ribeiro”, no Parque Santa Maria, “Fernando Guedes de Moraes”, no Jardim Lucila, “Ary de Almeida Sinisgalli”, na vila Esperança; e “José Celso de Mello Filho”, no CDHU (Conjunto de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) “Orlando Lisboa de Almeida”.

O movimento nas três primeiras registrou participação de todos os professores. Nas demais, houve paralisação parcial, com aulas realizadas em períodos alternados. Na “Ary”, por exemplo, as aulas pararam somente no dia 31.

Ao todo, 130 – dos 250 professores atendidos pela unidade da Apeoesp em Tatuí – aderiram ao movimento. Parte dos educadores viajou para São Paulo na sexta-feira. Os docentes deixaram o município às 10h, rumo à capital, para participar de assembleia que vai decidir se a greve será mantida ou não.

A categoria é contra a reforma da Previdência por entender que ela “vai afetar todos os brasileiros”. Conforme Raquel, a questão principal é que os trabalhadores não vão conseguir mais se aposentar com 100% da contribuição. Além disso, os professores temem perder o direito à aposentadoria especial.

“Nós trabalhamos muito com o intelecto, com jovens e com barulho. Com 65 anos de idade, não teremos mais a mesma agilidade de pensamento que as crianças exigem. Nós nos mantemos atualizados, mas a questão é que como isso será possível daqui a 20 anos, como fazer isso tendo artrite?”, questionou Ana Maria.

A professora acrescentou, ainda, que os professores sofrem com os efeitos do exercício da profissão. Em especial, com desgastes da voz e por causa de movimentos repetitivos. Também disse que os docentes resolveram encampar o movimento no município porque têm obrigação moral e ética de despertar a consciência dos cidadãos.

“O povo não sabe o que é a reforma da Previdência. Pode até saber o que acontece no jogo de futebol, na novela, mas no país, parece que as pessoas estão dormindo. Então, como parte intelectual do país, nós saímos à luta primeiro”, afirmou.

Para a professora, é exatamente pela importância da categoria que o governo federal teria tentado “fazer uma manobra” perto da apreciação. “Não é à toa que quiseram parar o movimento”, declarou, referindo-se ao anúncio feito por Temer de que os servidores estaduais e municipais estariam excluídos.

Ana Maria defendeu uma ampla mobilização por parte dos professores, especialmente, para defender os direitos dos trabalhadores braçais. Na avaliação da professora, nenhuma pessoa terá condições de exercer função insalubre até os 80 anos, idade a qual ela estima que a aposentadoria possa ser integral.

De acordo com ela, a exigência de 49 anos de contribuição e a eliminação da diferenciação das regras para homens e mulheres inviabilizaria novas aposentadorias.

“Ninguém começa a trabalhar aos 16 anos e fica fixo no emprego pelo resto da vida. Então, é desumano fazer isso com o povo brasileiro. Os jovens que estão saindo das faculdades e vão começar a trabalhar nunca vão se aposentar”, argumentou.

Além da passeata, os educadores realizaram ação de mobilização dos pais e responsáveis pelos estudantes. Entre a terça e a sexta-feira, os docentes chamaram os representantes até as unidades para explicar para eles o propósito da greve. “Eles entenderam o motivo e todos nos apoiaram”, acrescentou Raquel.

Os professores também indicaram abaixo-assinado virtual, contra a reforma da Previdência. Disponibilizaram, ainda, um microfone com caixa de som para ser utilizado pela população. O servidor público estadual aposentado Rubens Antônio da Silva fez uso do equipamento instalado no centro da Praça da Matriz.

“Eu me aposentei em janeiro, mas vim dar suporte para o que as pessoas estão reivindicando, porque tenho amigos, filhos, parentes. Não é porque eu não estou mais na ativa que o problema está resolvido”, comentou ele, à reportagem.

Silva declarou que considera as medidas anunciadas por Michel Temer como “um golpe contra o povo brasileiro”. Ele avaliou que as medidas integrariam um “programa derrotado nas últimas eleições”, afirmando que os projetos haviam sido propostos pelo então candidato à presidência, o tucano Aécio Neves.

O oficial de Justiça aposentado alegou, ainda, que as afirmações feitas pela equipe do governo federal de que a Previdência estaria em risco caso medidas não fossem adotadas não se sustentam. De acordo com ele, a União não estaria contabilizando todas as entradas de recursos. “É uma conta irreal. Se somarmos tudo, teremos um superávit e não um déficit”, complementou.

Também presente à manifestação, o vereador Eduardo Dade Sallum (PT) afirmou que o movimento é uma resposta da cidade ao “governo ilegítimo de Temer”. O parlamentar citou que a reforma trabalhista também precisa ser combatida e defendeu a participação de mais vereadores em protestos por direitos.

Conforme ele, a função de um edil vai além de somente pedir emendas parlamentares para deputados estaduais e federais. Sallum disse que os recursos solicitados para melhorias de saúde e infraestrutura, por exemplo, não são suficientes para garantir um novo patamar de vida a quem reside no município.

Para ele, os parlamentares locais devem também cobrar dos mesmos deputados que votem contra as reformas. “Não adianta ficar trazendo emendas, sendo que as verbas obrigatórias passam por convênios que foram reduzidos por uma PEC (proposta de emenda à Constituição)”, alertou.

Sallum participou da passeata que atraiu perto de 150 pessoas. O vereador avaliou que o número de manifestantes mostra que a população está começando a entender melhor os direitos e a se engajar na busca por ações efetivas.

“Queira ou não queria, essa manifestação coloca Tatuí numa rota de discussão nacional extremamente importante para os nossos dias”, comemorou.

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