sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PAPEL DE JORNAL

Quando eu trabalhava no jornal O Progresso de Tatuí, acho que em 1979, certo dia, enquanto redigia notícias na máquina de escrever, passou por mim o diretor-gerente da empresa, José Nascimento, me observou e disse que cada um que passava por ali deixava sua marca. Fiquei um tanto surpreso e nem imaginava a que ele se referia. Qual seria a minha marca?

O que o senhor está dizendo? - perguntei. Então ele se referiu ao papel que eu usava. Quando cheguei ao jornal, cortava-se o papel-jornal (fornecido pela T. Janner, ainda me lembro) em tamanho sulfite, disponibilizando-o à redação.


Um dia o papel faltou e quando o diretor foi providenciar o corte, eu disse que não precisava, que iria utilizar o verso dos muitos press-release que a redação recebia diariamente e que, na sua maior parte, ia pra lixeira porque o assunto não interessava. Eu, sempre avesso ao desperdício, encontrei uma utilidade para aquilo, redigindo notícias no verso em branco. Era até melhor para os tipógrafos, pois o papel branco deixava as letras mais visíveis do que no papel-jornal, que é pardo, principalmente quando a tinta da máquina de escrever já não estava tão nova... Nunca mais o Progresso cortou papel-jornal para a redação, pelo menos até que a empresa foi vendida para o Ivan Gonçalves e o Roberto da Nova Tatuí. 

Somente hoje, relembrando tudo isso, dou um valor mais nobre ao meu feito. Economizando recursos para o jornal (porque jornal no Interior era - e talvez ainda seja - economicamente, uma aventura, não tendo como desperdiçar),  eu estava agindo de forma ecologicamente correta, reutilizando o papel. Reutilizar: o segundo da Lei dos Três Erres. Naquele tempo ninguém falava em sustentabilidade.

No dia seguinte, chegou à redação o jornalista e filósofo Walter Silveira da Mota e pediu mais folhas de papel. José Nascimento estendeu-lhe um maço de press-release. Walter ficou olhando pra ele, sem entender.

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